Há quase um ano, o grande Paulo Goulart nos deixava. Ele faleceu no dia 13 de março de 2014, em decorrência de um câncer. Se vivo estivesse, completaria 82 anos neste dia 9 de janeiro. Ainda bem que podemos acompanhá-lo diariamente, no Viva, como Altair Barreto de “O Dono do Mundo”, o passivo marido da megera Constância Eugênia (Nathalia Timberg), pai do vilão-mor da novela, Felipe (Antônio Fagundes).
Paulo Goulart foi uma das figuras mais queridas de nossa televisão. Com Nicette Bruno, formou um casal que atravessou décadas de vida em comum, estampada nos palcos e nas telas da TV e do cinema. Deixou três filhos, também atores talentosos: Bárbara, Beth e Paulo Filho. O tipo bonachão e o sorriso largo cativaram gerações de telespectadores que se acostumaram com sua presença constante e marcante em nossa Teledramaturgia, não importava o tamanho que tivesse seu personagem.
Falando em tamanho, Paulo era um atorzão, no porte e no talento. O timbre grave da voz o ajudava na construção de vilões maquiavélicos, como o Seu Donato, um pescador ganancioso em “Mulheres de Areia” (1993). Ou na severidade de Altino Flores, em “Fera Radical” (1988), o patriarca austero e amargurado por viver preso a uma cadeira de rodas. Ao mesmo tempo, Goulart pendia para a comédia e nos arrancava o riso ao criar um tipo como o segurança Gino, de “Plumas e Paetês” (1980-1981), um carcamano romântico e desajeitado. Seu Mariano, de “América” (2005), foi outra marcante criação, um homem simplório e honesto, de princípios rígidos e coração frágil.
Donato, Altino, Gino e Mariano são apenas quatro exemplos de tipos diferentes vividos por Paulo Goulart e que atestam toda a sua grandiosidade e versatilidade como ator. Mas a lista é enorme! Eu contei quase 50 personagens só na televisão. Além destes, foram mais de 25 filmes e outras tantas peças de teatro em mais de 60 anos de serviços prestados à arte de representar.
Paulo Afonso Miessa nasceu em Ribeirão Preto (SP). O sobrenome artístico veio do tio radialista, Aírton Goulart. No início dos anos 1950, estreava na TV, no cinema e nos palcos, tendo sido premiado várias vezes ao longo da carreira. Paulo casou-se com Nicette em 1954. Uma curiosidade: ela é dois dias mais velha que ele (nasceu em 7 de janeiro de 1933).
Na década de 1960, foram seis novelas seguidas na TV Excelsior, com destaque para seus personagens em “As Minas de Prata”, “A Muralha” e “O Terceiro Pecado”, todas de Ivani Ribeiro. Na Globo, estreou em “A Cabana do Pai do Tomás”, em 1969. Brilhou como Flávio, em “Verão Vermelho” (1970), de Dias Gomes, e como Claude, o francês que precisava casar-se para fechar um pomposo negócio no Brasil, na comédia romântica “Uma Rosa com Amor” (1972-1973), de Vicente Sesso, contracenando com Marília Pêra.
Nas décadas seguintes, desdobrou-se em mais de uma dezena de tipos marcantes. Além dos já citados, Paulo Goulart foi Silas (“Jogo da Vida”), Roberto (“Transas e Caretas”), Marcos Labanca (“Roda de Fogo”), Joaquim (“Gente Fina”), Ulisses (“Zazá”), Dom Lourenço (“A Padroeira”), Farina (“Esperança”), Eriberto (“Duas Caras”), Severo (“Cama de Gato”), Eliseu (“Morde e Assopra”), e vários outros personagens em mais novelas, minisséries e seriados.
Acho que a lembrança mais longínqua que tenho do ator é da novela “Papai Coração”, da TV Tupi, em 1976, em que ele contracenava com sua família. Lá estavam também Nicette, Bárbara, Beth e Paulinho – este, então um garoto. Desta mesma época, lembro também de Paulo em um comercial de sabão em pó, em que ele convocava as freguesas a experimentar o produto e conferir o resultado na janela. Aquela figura sorridente, imponente e carismática já me conquistava.
Escreve aí embaixo: quais personagens de Paulo Goulart você mais gostou?